Uma Vó Especial
Hoje vou fugir um pouco do assunto de games, filmes e nostalgia. Quero falar sobre alguém muito importante para mim: minha avó materna.
Sempre fui um cara caseiro, que desde pequeno gostava de games e filmes. E, por sorte, tive uma avó nerd. Exatamente isso, uma avó nerd.
Nos anos 80 e 90, ser nerd não era tão aceito como é hoje. Naquela época, a palavra ainda tinha um tom pejorativo. Mas eu cresci nesse ambiente, e devo tudo que gosto hoje à minha avó, Antonia Aparecida.
Como assim, Área78?
Vou explicar.
Muita gente diz que ser criado pela avó é moleza, mas a minha era linha dura. Só hoje, com mais maturidade, entendo perfeitamente o que ela fazia e agradeço por tudo o que sou.
Minha avó era única, e até hoje sinto orgulho dela.
Foi com ela que aprendi a amar diversos tipos de filmes, séries e até mesmo os videogames.
Ficção científica, terror e humor britânico
Foi com minha avó que aprendi a gostar de ficção científica, terror clássico e do bom e velho humor britânico(Monty Python).

Eu tinha uns 7 ou 8 anos quando ela me apresentou Jornada nas Estrelas. Ela explicou toda a sagada série, quem era Spock, e o motivo dele agir pela lógica, já que era meio vulcano e meio humano. Ela me ensinou que, por isso, às vezes, as emoções surgiam sutilmente nele. Era fascinante como ela explicava, dando um banho em muitos críticos que hoje estão por aí na internet.

Ela sempre mostrava os lados positivos e negativos dos filmes, com uma imparcialidade incrível. Hoje percebo como foi importante, ao final de cada filme, ela me mostrar sua visão. Era quase como um debate pós-filme, e ela vivia intensamente o que assistia.
Quando vimos Jornada nas Estrelas: A Ira de Khan, lembro que, para mim, aquele personagem era novidade. Ela, por outro lado, comentou com entusiasmo: “Nossa, ele está de volta!”. Eu, sem entender, fiquei curioso, e ela me explicou que Khan já tinha aparecido na série original com o jovem Capitão Kirk. Pena que não havia YouTube naquela época para ela me mostrar o episódio. Mais tarde, assistimos juntos, e quando o Spock morreu, ela chorou. Mas também vibrou com seu retorno.

Terror com minha avó? Sim!
Minha avó não se importava com o fato de eu ser novo. Assistíamos juntos filmes de terror, e, confesso, em alguns eu ficava tão assustado que pedia para dormir no quarto dela.
Entre os filmes de terror, lembro que assistimos muitos clássicos: Sangue de Drácula com o icônico Christopher Lee como Conde Drácula, A Casa do Espanto, She (um filme antigo sobre uma terra que tornava as pessoas imortais), A Mosca, Sexta-Feira 13, Cemitério Maldito, e a trilogia de A Profecia, só para citar alguns.

Mas um filme que marcou foi Alien: O 8º Passageiro. Ele passou no início da Tela Quente, e eu não pude assistir porque terminaria muito tarde. Fiquei chateado, mas, no dia seguinte, minha avó me contou a história inteira. Ela até deu um toque pessoal: “O Alien foi jogado no espaço, mas eu acho que ele não morreu. Ele é muito forte e deve ter sobrevivido”. Na época, não dei muita atenção, mas anos depois, ao assistir Alien Romulus no cinema, uma lágrima escorreu. Ela estava certa. Imaginei minha avó ao meu lado, falando alto como sempre fazia: “Te falei, lembra?”.

Ela vivia os filmes de forma intensa. Quando assistimos Krull, por exemplo, lembro como ela ficou triste com a morte do ciclope.

Star Wars e games: uma avó completa
Minha avó também era fã de Star Wars. Assistimos juntos a trilogia original (episódios 4, 5 e 6), e ela amava o Yoda. Ela chorou quando ele morreu e dizia que Luke Skywalker era um prepotente, que Leia seria a verdadeira líder. Imagino hoje o que ela acharia do universo expandido de Star Wars, com tantas séries. Tenho certeza de que assistiria a todas, e com certeza reclamaria de algumas!

No mundo dos games, ela gostava de me ver jogando e sempre me perguntava se eu já tinha terminado (ou “zerado”, como dizemos hoje). Especialmente quando eu jogava Didi na Mina Encantada, do Odyssey. Eu explicava que o jogo não tinha fim, mas ela insistia em saber se eu tinha “terminado”.

Quando ganhei Altered Beast para o Master System, ela o chamava de “Jogo do Lobo” e sempre perguntava se eu já havia vencido.


Um legado
Dona Antonia Aparecida foi a avó que todos gostariam de ter hoje: nerd, amiga e uma cozinheira de mão cheia. Com ela, aprendi muitas coisas: a entender o próximo, a respeitar opiniões diferentes e que o mundo é um lugar para todos.
Infelizmente, hoje ela não está mais entre nós. Se estivesse viva, teria 97 anos. O Alzheimer, com seus efeitos colaterais, a levou.
Hoje eu agradeço por tudo, Dona Cida, e sei que, como um espírito Jedi, a senhora está me protegendo.

Finalizo esta homenagem com uma frase que eu sempre dizia antes de dormir:
“Bença, vó.”
E ela respondia:
“Deus te abençoe, que seja um homem honesto, trabalhador e cumpridor de seus deveres.”


Obrigado, vó.
Antônia Aparecida 1927 – 2013
E aí, pessoal! Meu nome é Caio Nery e sou um Analista de Sistemas gamer, apaixonado por cinema e pai de uma princesa linda. Meu hobby favorito é jogar videogames, desde os clássicos do Atari até os mais modernos e avançados.
Além disso, eu sou um grande fã de quadrinhos, desenhos, animes e filmes dos anos 80 e 90! Adoro mergulhar na nostalgia e relembrar as histórias que marcaram a minha infância e adolescência.
Também sou um dos integrantes do Podcast Paralello! Lá, eu falo sobre tudo o que mais amo: games, filmes, TV e muito mais! Sempre trazendo temas atuais e também nostálgicos.! Venha nos ouvir!
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